Cultura de Paz

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De peito aberto para a vida

Saúde não é uma condição em que nós simplesmente escapamos das influências negativas. É um estado altamente positivo, ativo, em que nós mesmos somos responsáveis pelas situações e problemas que enfrentamos e buscamos resolver. O termo paciente pode significar ficar à mercê da doença, como resultado de uma atitude passiva. Saúde, ao contrário, implica numa busca constante, significa ser agente de seu próprio bem estar. No pensamento budista, uma vida saudável não quer dizer estar livre de dificuldades, mas sim ter a força para enfrentar e superar qualquer problema. (Daisaku Ikeda)

O dia mais difícil para a jornalista e escritora Vera Golik foi aquele em que teve que contar à mãe, na época com 80 anos e passando pela experiência de sua primeira quimioterapia, que o filho de 50 anos, seu irmão, havia falecido após três anos lutando contra um linfoma. Conforme relata a própria Vera, “num primeiro momento, o coração de mãe falou mais alto e ela disse ‘porque ele que ainda não viu os netos nascerem e não eu, que já estou idosa e vivi toda minha vida’. Depois do primeiro momento da dor e de muitas lágrimas, juntamos nossas forças e percebemos que nossa missão era fazer dessa experiência dolorosa, algo de positivo. Foi assim que nasceu DE PEITO ABERTO – a autoestima da mulher com câncer de mama, uma abordagem humanista”. De uma ideia simples, surgiu um grande projeto que hoje já é uma referência no gênero.

DE PEITO ABERTO envolve livro, exposição de fotos, palestras e principalmente, vidas. Dezenas de vidas que superaram a doença e hoje servem de motivação e alento a milhares de pessoas, tanto no Brasil como nos EUA onde foi exposta em 2011, na sede das Nações Unidas.

A ideia do projeto surgiu após Vera e o marido Hugo Lenzi – fotógrafo e sociólogo – vivenciarem vários casos de câncer em suas próprias famílias. Ao experienciarem a batalha contra a doença e testemunharem a falta de humanismo presente no sistema de saúde – que afeta não apenas os pacientes, mas também os familiares e amigos durante as várias fases do longo tratamento – Vera e Hugo decidiram transformar esta vivência neste projeto com o objetivo de transmitir força e esperança a todas as pessoas que trilham a mesma jornada.

Foi dessa forma que, por meio de depoimentos de mulheres de todas as idades e classes sociais, foram conhecendo pessoas, colecionando experiências ímpares, emocionando-se, moldando-se e amadurecendo o projeto. Perceberam que mesmo as experiências mais difíceis podem se metamorfosear em oportunidades de crescimento e superação. Todas essas histórias – mais de 50 – foram reunidas pelo projeto e materializadas em exposição fotográfica, palestras e livro. São mulheres do Brasil, Espanha e EUA, de 18 a 70 anos de diversas origens, etnias e classes sociais.

Desde o seu lançamendo em 2006, o projeto é um sucesso de público. Já foi exibido mais de 30 vezes nas maiores cidades brasileiras, mais de três milhões de pessoas visitaram as exposições e participaram de palestras e cerca de oito milhões de pessoas foram impactadas pela cobertura de mídia.

Mas a meta dos autores é que este seja um processo contínuo, e que novas imagens e novos depoimentos sejam incluídos, e que a o aspecto itinerante do Projeto seja ampliado cada vez mais. Meta essa que já se percebe palpável, uma vez que tem o apoio do Governo Brasileiro – Ministérios, membros do Congresso, Corpo Diplomático, Caixa Econômica Federal (por meio do programa Caixa Cultural) –; várias agências das Nações Unidas no Brasil; a Missão Permanente do Brasil nas Nações Unidas; bem como da American Cancer Society e diversas outras instituições internacionais de combate ao câncer. A exposição De Peito Aberto foi a única convidada a se apresentar na sede da ONU, em Nova York, por ocasião do Encontro de Alto Nível da ONU sobre Doenças Crônicas Não Transmissíveis, seguido da abertura da Assembléia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2011.

Além dessa grande honra de poder participar desse momento histórico, os convites para que o Projeto seja levado para mais locais, no Brasil e no Exterior, não cessam. Por ocasião do Outubro Rosa (mês de combate ao câncer de mama) a mostra ficou sediada na Cidade Administrativa Presidente Tancredo Neves, de Minas Gerais, a convite do governo daquele estado. Já a mostra em inglês permanece nos Estados Unidos, pois existem vários convites para percorrer outras cidades.

Foram inúmeros os momentos marcantes para os autores. Entre eles força da arte como transformadora da vida. “A maioria das mulheres entrevistadas estava muito abalada com todo o processo quando a encontramos. Mas, por se doarem, doarem suas imagens e histórias para dar força para tantas outras mulheres de todo o planeta, elas se revigoraram, recuperaram a autoestima, estão de bem com vida”, conta Vera. Foi um processo que enriqueceu a todos: a ambos como autores, às guerreiras corajosas e vitoriosas que foram fotografadas e entrevistadas, aos familiares e amigos destas e também a todo o público que vem tendo acesso à exposição, às palestras e ao livro. Uma prova de quanto o projeto teve e tem poder de emocionar e levar a uma reflexão transformadora e humanista está nos livros de assinaturas que ficavam nas Exposições. Em vez das pessoas apenas assinarem seus nomes, elas voluntariamente deixavam verdadeiros relatos de experiência de uma, duas, três ou mais páginas, contando como o projeto as tinha tocado e como elas pretendiam ver e viver a vida dali em diante. “Um grande presente para todos nós, uma ode à Dignidade da Vida, como ensina o grande mestre Daisaku Ikeda, a quem agradecemos do fundo do nosso coração e De Peito Aberto”, finaliza Vera.

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