Cultura de Paz

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Comunicação humanística

Uma vida dedicada ao estabelecimento de pontes entre a ciência de ponta e a espiritualidade

Por Mônica Kimura*

Dezenas de pés descalços sobre a relva preparam-se para uma experiência única: a interação com a força criativa da Terra. Transeuntes incautos que passam pela frente do prédio da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, observam intrigados o grupo que se une em consonância com os comandos vocais do mestre Ed, para um abraço coletivo à grande árvore. Os participantes, por sua vez, entreolham-se perplexos, mas engajam-se à ação. Dedos tímidos unem-se aos dos colegas mais próximos e, lenta e um tanto desajeitadamente, aproximam-se do caule acolhedor. As batidas do coração aceleram-se. A voz do mestre intensifica-se e torna-se parte de cada essência. A aproximação dos corpos é premente e percebida fisicamente, mesmo com os olhos cerrados. Os participantes entregam-se à sensação inebriante de comunhão e paz que o ato evoca e a catarse se faz em um envolvente e comovente abraço coletivo à grande árvore.

Edvaldo Pereira Lima é jornalista. Mas, desde sempre, quis dedicar-se a um tipo de jornalismo que veiculasse notícias do bem. Desde muito cedo compreendeu seu papel enquanto agente transformador de um mundo em conflito. A alma de aventureiro manifestou-se igualmente cedo, herança paterna. Seu pai foi um homem que nunca parava muito tempo em um local, mudava-se constantemente com a família em busca de novos ares. A jovem alma sonhadora do garoto Ed encontrou uma maneira de alçar vôo quando, vivendo na cidade de Três Marias-MG, conheceu Ann Hoskins, uma missionária americana que atuava em um programa de ajuda humanitária promovido pelo governo norte-americano. Ann ensinou-lhe seu idioma e o garoto Ed, de apenas 12 anos, pode sonhar com um mundo novo, diferente daquele que vira até então. Decidiu dedicar-se à realização de seus sonhos e – determinado! – foi trabalhar. A dura realidade de um menino pobre finalmente começava a mudar. Estudo, trabalho duro e muita dedicação. Esses foram os ingredientes que o moldaram.

Ann voltou aos EUA mas aluno e mestra mantiveram correspondência. Mais tarde, aos 17 anos – enfim! – alçou seu primeiro voo solo. Foi à Costa Rica, a convite da antiga mestra e lá, travou contato com o jornalismo: o marido de Ann era subeditor de um jornal em língua inglesa e Ed publicou seus primeiros textos. Ali já se manifestava o estilo que marcaria sua trajetória. Ed fazia um jornalismo do bem.

Após a curta estada na Costa Rica, foi para os EUA e de lá para a Europa. De volta ao Brasil, ingressou na graduação em Jornalismo da USP, emendou o mestrado e o doutorado e, ingressou na carreira acadêmica. “Na juventude eu queria ser piloto, mas a miopia na adolescência minou esse desejo”, conta. Mas o sonho de menino foi em parte recuperado ao ser contratado como jornalista pela mais importante revista de aviação dos EUA, a Air Transport World, posição que ocupa até hoje.

O pós-doutorado foi cursado na Universidade de Toronto, no Canadá. “Eu já vinha impactado com as novas possibilidades jornalísticas que despontavam”, conta. Bebendo na fonte de grandes jornalistas que viam no New Jornalism, ou Novo Jornalismo, uma maneira de narrar histórias reais de forma a oferecer ao leitor uma nova maneira de ver as coisas.

Criou um método denominado Escrita Total que atualmente ministra em empresas, escolas, comunidades, cujo principal objetivo é municiar o aluno de técnicas que ampliem sua capacidade de escrita, a partir de um olhar diferenciado do mundo. “Sempre acreditei que a escrita possui um poder grandioso, que pode transformar a realidade de quem lê, mas principalmente, de quem redige”, explica.

O ritual descrito no início do texto é somente uma pequena parte do programa praticado pelos alunos do jornalista, professor doutor Edvaldo Pereira Lima nas aulas de pós-graduação do curso Jornalismo Literário Avançado e Histórias de Vida. Na época somente alunos da USP possuíam o privilégio de participar dessas aulas. Hoje, alunos de todas as formações podem usufruir deste método. Ed tem realizado oficinas do Escrita Total e em cada local, participantes de todas as idades e formações, afirmam que suas vidas e consciências foram transformadas a partir da escrita.

Militante de uma corrente que acredita em um jornalismo promotor da paz, Ed é um admirador da atuação resoluta da BSGI. “Temos posições afins”, justifica. Acredita que a atuação de entidades como esta são fundamentais para a construção de uma nova era, de paz e solidariedade entre os povos.

* Em tempo: A redatora deste texto e dos demais que integram o portal da BSGI foi aluna do professor Edvaldo em seu mestrado na ECA/USP. Seu método inspirou-a a criar a seção Ações para a Paz do hot site Cultura de Paz (http://www.culturadepaz.org.br/acoes_para_paz/), onde constam perfis de pessoas que dedicam suas vidas à criação de um mundo pacífico.

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